Por Lucy Kellaway - Valor Econômico
Quando
Larry Page entrevista candidatos a um emprego no Google, ele fica tão
entediado com as respostas ensaiadas que pede aos seus interlocutores
que o ensinem algo que ele não saiba.
Ouvi
essa história dias atrás no Hay Festival, em Segóvia, quando deram essa
mesma tarefa a um painel de escritores famosos. Maravilha, pensei. Mas,
logo me veio à cabeça a pergunta: se
fosse entrevistada por Page, o que eu diria?
Após
pensar muito, cheguei a duas coisas que sei e que ele provavelmente não
sabe. A primeira é a melhor maneira de matar a [erva daninha]
polignácea japonesa: você corta a planta próximo
do chão e injeta glifosato no caule oco usando um conta-gotas. A
segunda é a mistura ideal de pelos de animais usados em estofamentos
tradicionais - 80% porco e 20% bovino. Eu poderia falar muito sobre os
dois assuntos, mas será que ele ficaria impressionado?
Tenho a impressão de que não.
O
painel de escritores não se saiu muito melhor, embora um deles tenha
afirmado que se um filhote de cachorro nasce sem respirar, você precisa
colocá-lo em uma toalha e rolá-lo como se
estivesse secando alface para o que quer que esteja bloqueando os
pulmões do animalzinho seja expulso. Depois que todos fizeram suas
tentativas, o último escritor - cuja obra é a mais estranha e a mais
original da turma - suspirou e disse não saber nada que
as outras pessoas não saibam, e que acabou esquecendo tudo o que sabia.
Ao
ouvir isso, mudei de ideia. A pergunta que Page costuma fazer não é
nada demais. É tão inútil quanto todas as outras coisas que as pessoas
perguntam a quem está à procura de um emprego.
Há mais de dois mil anos entrevistamos pessoas, mas em vez de ficarmos
melhores nisso, estamos piorando. O exemplo mais antigo que consigo
encontrar está no Novo Testamento, onde Jesus, que na época recrutava
discípulos, mantinha o processo simples e rápido,
fazendo uma única pergunta: "O que você busca?".
Os
entrevistadores modernos tornam a coisa bem mais complicada. Na última
década, todo mundo ficou viciado em perguntar coisas como "fale sobre
uma situação em que você demonstrou coragem".
Ou "fale sobre uma situação em que você aprendeu com um fracasso". O
pobre candidato então cospe uma resposta ensaiada, e quase inventada,
enquanto o entrevistador, entediado, consente com ar inteligente - um
processo que na maioria das vezes é desagradável
para os dois lados e não deixa ninguém mais sábio.
A
onda mais recente de perguntas bizarras é ainda pior. Por que as tampas
de bueiro são redondas? Quantos afinadores de piano existem no mundo
inteiro? O Google tem grande parte da culpa
por esse desvario, mas agora metade dos grandes empregadores dos
Estados Unidos está fazendo a mesma coisa, achando que se fizerem
perguntas sobre coisas para as quais o infeliz candidato não está
preparado, de alguma forma as respostas serão mais reveladoras.
O
site da internet Glassdoor.com elaborou uma lista sobre as mais idiotas
das perguntas idiotas, e o Goldman Sachs ficou no topo dela. O banco
pergunta aos candidatos a um emprego: se
você fosse encolhido ao tamanho de um liquidificador e colocado dentro
de um multiprocessador de alimentos, como você faria para sair?
Perguntas "espertas" como esta só podem provar uma coisa: se o candidato
é bom com respostas "espertas". Por outro lado,
uma pergunta feita na Trader Joe's - o que você pensa sobre os anões de
jardim? - não prova nada, exceto o fato de que a rede de supermercados
está totalmente perdida.
Jesus
nunca achou que deveria perguntar a Mateus, João e todos os outros o
que eles pensavam dos anões de jardim. Também nunca pensou em fazer a
pergunta formulada a candidatos por uma
fabricante de autopeças: "Se você fosse um programa do Microsoft
Office, qual seria?".
O
motivo de ninguém até hoje ter encontrado uma boa maneira de fazer uma
entrevista de emprego, é que não existe uma. Estudos mostram que essa
charada na qual somos todos viciados não
é muito melhor que escolher aleatoriamente uma pessoa. A única razão de
persistirmos é que confiamos demais em nossa habilidade de julgar os
outros. Lembro-me, por exemplo, de como iludi uma dezena de banqueiros
experientes no JP Morgan há muito tempo, convencendo-os
de que eu queria fazer carreira no setor bancário, quando obviamente eu
não queria.
Há
apenas duas perguntas na relação do Glassdoor.com que têm alguma
utilidade. A primeira é: "Quanto é 37 vezes 37?". Não dá para brincar
com isso, e não se trata de algo embaraçoso ou
vulgar. Se você consegue responder sem precisar contar muito nos dedos,
então você é mais esperto do que eu.
Mais
útil ainda é a pergunta feita na Ernst & Young: "A vida é
fascinante para você?" A resposta diz ao entrevistador tudo o que ele
precisa saber. A pessoa que responde "sim" deveria
ser poupada imediatamente do risco de ter que trabalhar lá.