16 de out. de 2012

Entrevistas de emprego não servem para nada.



Por Lucy Kellaway - Valor Econômico

Quando Larry Page entrevista candidatos a um emprego no Google, ele fica tão entediado com as respostas ensaiadas que pede aos seus interlocutores que o ensinem algo que ele não saiba.
Ouvi essa história dias atrás no Hay Festival, em Segóvia, quando deram essa mesma tarefa a um painel de escritores famosos. Maravilha, pensei. Mas, logo me veio à cabeça a pergunta: se fosse entrevistada por Page, o que eu diria?
Após pensar muito, cheguei a duas coisas que sei e que ele provavelmente não sabe. A primeira é a melhor maneira de matar a [erva daninha] polignácea japonesa: você corta a planta próximo do chão e injeta glifosato no caule oco usando um conta-gotas. A segunda é a mistura ideal de pelos de animais usados em estofamentos tradicionais - 80% porco e 20% bovino. Eu poderia falar muito sobre os dois assuntos, mas será que ele ficaria impressionado? Tenho a impressão de que não.
O painel de escritores não se saiu muito melhor, embora um deles tenha afirmado que se um filhote de cachorro nasce sem respirar, você precisa colocá-lo em uma toalha e rolá-lo como se estivesse secando alface para o que quer que esteja bloqueando os pulmões do animalzinho seja expulso. Depois que todos fizeram suas tentativas, o último escritor - cuja obra é a mais estranha e a mais original da turma - suspirou e disse não saber nada que as outras pessoas não saibam, e que acabou esquecendo tudo o que sabia.
Ao ouvir isso, mudei de ideia. A pergunta que Page costuma fazer não é nada demais. É tão inútil quanto todas as outras coisas que as pessoas perguntam a quem está à procura de um emprego. Há mais de dois mil anos entrevistamos pessoas, mas em vez de ficarmos melhores nisso, estamos piorando. O exemplo mais antigo que consigo encontrar está no Novo Testamento, onde Jesus, que na época recrutava discípulos, mantinha o processo simples e rápido, fazendo uma única pergunta: "O que você busca?".
Os entrevistadores modernos tornam a coisa bem mais complicada. Na última década, todo mundo ficou viciado em perguntar coisas como "fale sobre uma situação em que você demonstrou coragem". Ou "fale sobre uma situação em que você aprendeu com um fracasso". O pobre candidato então cospe uma resposta ensaiada, e quase inventada, enquanto o entrevistador, entediado, consente com ar inteligente - um processo que na maioria das vezes é desagradável para os dois lados e não deixa ninguém mais sábio.
A onda mais recente de perguntas bizarras é ainda pior. Por que as tampas de bueiro são redondas? Quantos afinadores de piano existem no mundo inteiro? O Google tem grande parte da culpa por esse desvario, mas agora metade dos grandes empregadores dos Estados Unidos está fazendo a mesma coisa, achando que se fizerem perguntas sobre coisas para as quais o infeliz candidato não está preparado, de alguma forma as respostas serão mais reveladoras.
O site da internet Glassdoor.com elaborou uma lista sobre as mais idiotas das perguntas idiotas, e o Goldman Sachs ficou no topo dela. O banco pergunta aos candidatos a um emprego: se você fosse encolhido ao tamanho de um liquidificador e colocado dentro de um multiprocessador de alimentos, como você faria para sair? Perguntas "espertas" como esta só podem provar uma coisa: se o candidato é bom com respostas "espertas". Por outro lado, uma pergunta feita na Trader Joe's - o que você pensa sobre os anões de jardim? - não prova nada, exceto o fato de que a rede de supermercados está totalmente perdida.
Jesus nunca achou que deveria perguntar a Mateus, João e todos os outros o que eles pensavam dos anões de jardim. Também nunca pensou em fazer a pergunta formulada a candidatos por uma fabricante de autopeças: "Se você fosse um programa do Microsoft Office, qual seria?".
O motivo de ninguém até hoje ter encontrado uma boa maneira de fazer uma entrevista de emprego, é que não existe uma. Estudos mostram que essa charada na qual somos todos viciados não é muito melhor que escolher aleatoriamente uma pessoa. A única razão de persistirmos é que confiamos demais em nossa habilidade de julgar os outros. Lembro-me, por exemplo, de como iludi uma dezena de banqueiros experientes no JP Morgan há muito tempo, convencendo-os de que eu queria fazer carreira no setor bancário, quando obviamente eu não queria.
Há apenas duas perguntas na relação do Glassdoor.com que têm alguma utilidade. A primeira é: "Quanto é 37 vezes 37?". Não dá para brincar com isso, e não se trata de algo embaraçoso ou vulgar. Se você consegue responder sem precisar contar muito nos dedos, então você é mais esperto do que eu.
Mais útil ainda é a pergunta feita na Ernst & Young: "A vida é fascinante para você?" A resposta diz ao entrevistador tudo o que ele precisa saber. A pessoa que responde "sim" deveria ser poupada imediatamente do risco de ter que trabalhar lá.

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira